• maisd60@maisd60.com.br

Apesar da sua idade…

Carreira abr 16, 2020 #idade, #preconceito

Estava eu sentado na sala da presidência de uma multinacional farmacêutica, em frente ao seu jovem e competente presidente, tendo, ao lado, uma profissional de uma conceituada empresa de consultoria e seleção. Naquela época, eu ainda não havia chegado aos 50 anos.

Estávamos reunidos seguindo um ritual de avaliação de resultados do nível gerencial, quando eu receberia o feedback do meu trabalho. Somente eu, o presidente e ela.

Foi exatamente assim que ela iniciou: “Santarem, apesar da sua idade...”

Ao ouvir tais palavras, a projeção de todos os eventos da minha vida profissional começou a aparecer na minha frente. Via meus momentos de aprendizado, minhas batalhas corporativas, minhas vitórias e as minhas derrotas também (não foram poucas). A imagem de centenas de sorrisos de ex-alunos de pós-graduação, hoje profissionais muito bem colocados no mercado de trabalho, derramavam-se na minha frente, também em projeção.

“Santarem, apesar da sua idade…”. A frase ainda reverberava por todo o meu corpo. As ondas sonoras de cada palavra, emitida por aquela voz agradável, me corroíam por dentro como um veneno.

Eu não podia mais ouvir, depois daquelas palavras, muito do que era dito a meu respeito e a respeito do meu trabalho, avaliado por aquela profissional. Não podia. Eu me sentia em um túnel escuro, com a minha vida profissional passando pela minha frente, enxergando uma luz branca e forte na minha frente.

“Pronto; morri!…”

O fato é que, resistindo a falta de tato e de profissionalismo daquela pessoa, usei de todas as minhas forças para voltar, de fato àquela reunião. De fato, porque, apesar de estar sentado junto com eles, meu espírito tinha mergulhado e navegado por caminhos distantes, virtualmente. Voltei.

Voltei daquele transe, certo de que o “apesar da sua idade” tinha uma conotação preconceituosa; o preconceito do “Velho”. Voltei certo de que a educação familiar que tive, não me permitiria ser grosseiro. Voltei certo de que atitudes corporativas têm de ser seguidas à luz de códigos de conduta que eu sempre respeitei.

Voltei e, o mais importante era que eu estava lá de novo e poderia ouvir o restante da avaliação.

Resumo da história? “Apesar da minha idade”, eu estava entre os gerentes que obtiveram o “mais alto grau de avaliação”.

Nada tenho a discordar do termo “Velho”. O velho aqui (eu) está extremamente ativo (até mesmo por necessidade); minha filha do meio me colocou o apelido de velho e, quando ela me chama, a carga desse apelido vem impregnada de um amor e um carinho maravilhoso! O ser velho, me permitiu curtir uma neta linda e maravilhosa que me ensinou outro termo gostoso de se ouvir para muitos velhos: “Vovô”.

Ficar velhos, ficaremos todos. Não podemos ser, no entanto, como sabiamente fala um dos meus filhos, “Dinossauros corporativos”. Não podemos ficar desatualizados. Ao escrever este texto, após digitar o termo “curtir”, o corretor do Word recomendou-me substituir por “apreciar” (!!). Não! Não vou substituir! (Caro Word, você está desatualizado!). Trabalhos existem sobre tais “dinossauros corporativos” mostrando que suas atitudes não têm, necessariamente, a ver com a idade.

Por outro lado, não podemos ser preconceituosos. Conviver felizes com o inconformismo e com a sabedoria daqueles com menos idade, é como beber da fonte da eterna juventude. Daí, eu gostar tanto de dar aulas (a maioria dos meus alunos nem imagina que eu aprendo, em classe, tanto quanto eles!).

“Santarem… apesar da sua idade…”, naquela época me deixou atordoado…

Faço programas de treinamento corporativo em grandes empresas, com eventos e turmas que ora se iniciam às 4:00 da manhã, com turmas que seguem no mesmo dia. Em alguns dias outras se iniciam por volta de 1:00 da manhã!

Recentemente, ao realizar um exame intensivo de capacidade pulmonar, a médica me disse, “Olha, quando chegar na sua idade, eu quero ter a mesma força…”

Repararam? “Quando chegar na minha idade”…

A experiência dos anos, nos ensina que, na verdade, não existe nenhuma dose de ofensa em tais palavras, muito pelo contrário.

Quando estava com cerca de 40 anos, a minha filha caçula me disse que eu era velho. Estava correto. Eu estava envelhecendo. Mas quando um deles me perguntou: “Papai como era no seu tempo?” Eu respondi, como era no passado, porque o meu tempo é agora…

…E pretendo ouvir, muitas e muitas vezes, “Santarem, apesar da sua idade…

Carlos Santarem – 16/04/2020

Por Carlos Santarem

Pai de três filhos e avô de dois netos *** Escritor, Palestrante, Farmacêutico Bioquímico com habilitação em indústria e análise de alimentos e indústria farmacêutica, Tarólogo, e Terapeuta Floral *** *** Autor dos livros “Reino dos Sensos”, “Eu mereço um dia com boas práticas”, "Sensos da Qualidade - E o segredo da sobrevivência e do Sucesso", "A Odisseia de um pequeno ato de inclusão" e “Autora, a foca albina – Uma história que trata sobre pertencimento” *** *** Com especializações em Gestão da Qualidade; Boas Práticas, ISO Lead Auditor. *** *** Principais Prêmios e Títulos: *** *** 2011: Moção de Louvor, Aplausos e Congratulações pelos excelentes serviços prestados ao Estado. Assembleia Legislativa – RJ.*** *** 2007: Ordem do Mérito Farmacêutico Internacional - Grande Oficial- Conselho Federal de Farmácia. *** *** 2006-Diretor Presidente (2006-2007), CRF-RJ. *** ***

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Pular para o conteúdo